O Evangelho segundo o Espiritismo — Capítulo 5 - item 25 — As bem-aventuranças
“Bem-aventurados os aflitos”
melancolia
Luciana Sotini de Lima
Mensagem assinada pelo Espírito François de Genève.
O tema da melancolia traz elementos interessantes e
pertinentes para nossa vivência diária na matéria.
Embora a melancolia seja tratada costumeiramente nas áreas da
ciência e da medicina, aqui trataremos dela com enfoque espiritual. Buscaremos
identificar algumas causas e elementos que possam estar por trás desse estado da
alma, que é algo sobretudo relacionado ao Espírito.
A melancolia nos vem como uma nuvem a nos tirar a clareza,
trazendo um clima denso, que nos contagia internamente, como se perdêssemos o
sabor da vida.
Assim é importante identificar os elementos que causam a
melancolia, para que sejamos capazes de atuar no que nos seja possível para
tentarmos recompor a alegria de viver, afastando essa nuvem. O intuito é não
cultivarmos esses momentos excessivamente, comprometendo a saúde física e
psíquica.
Existem momentos de tristeza e abatimento que, se bem vividos
e bem experienciados (Bem e Mal Sofrer, cap5-item 18), conseguiremos deles extrair
bons frutos. Afinal situações melancólicas têm também lições a nos deixar. Ou
seja, precisamos saber bem sofrer: é necessário que sejamos colocados à prova,
e com resignação, poderemos aprender, como alunos em uma aula complicada. É esperado
do ser humano se revoltar, reclamar. Porém, ao sabermos que o sofrimento tem
prazo e validade, tudo fica mais fácil, afinal fomos nós mesmos que escolhemos os
nossos desafios no plano espiritual. E assim poderemos evoluir no ato de
sofrer.
O problema é quando a melancolia se apodera de nós, se
prolongando demasiadamente, nos tirando a qualidade de vida.
A carta do Evangelho nos diz que a melancolia, muitas vezes,
está relacionada à própria limitação da nossa experiência na matéria, quando o
corpo se torna um limitador para o Espírito ainda não liberto. Porque todos nós,
enquanto Espíritos imortais, filhos do Criador, somos destinados a sermos
peregrinos do Infinito na Luz, pois Deus nos criou simples e ignorantes, fadados
à perfeição relativa. Por isso temos como impulsionador do nosso Ser essa ânsia
e a sede de infinitude, de plenitude, de liberdade.
Há um poema de Cruz e Sousa, de 1905, chamado “Cárcere das
almas”, que trata exatamente disso.
Ah! Toda a
alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
O poeta afirma que nosso corpo é um cárcere, uma prisão de
nossas almas, que conseguem ver apenas através da janela de nossos olhos.
Dentro de seus calabouços, elas estão mudas, sozinhas, ou seja, melancólicas,
pois sonham com o momento de liberdade, em que rasgarão o corpo e ganharão o
Espaço da Pureza.
Porém, no estado em que ainda nos encontramos (muito
materializados), o corpo acaba se configurando como um peso, embora seja o vaso
fisiológico, um instrumento muito útil para nossa evolução.
Há Espíritos mais experimentados, que já avançaram relativamente
e identificam as Esferas mais elevadas e os haveres infinitos da Criação. Logo,
para esse Ser, voltar à matéria se torna mais difícil, pois ele se sentirá
limitado. Essa é uma experiência dolorosa, que provoca melancolia, embora
necessária como instrumento de progresso. Assim, se soubermos bem nos
utilizar do corpo material que nos é concedido pelo Criador, seremos capazes de
avançar mais degraus em direção a uma liberdade cada vez mais plena.
Emmanuel diz que:
Os verdadeiros mortos estão sepultados na
carne terrestre.
(livro:
Alma e Luz, cap 8), ou seja, a plenitude é a vida do Espírito liberto do corpo.
Sendo assim, se para os espíritos mais experimentados é
difícil retornar à matéria, é ainda mais desafiador para aqueles que não
cogitam as Verdades Divinas. Portanto o Ser ainda materialista está sepultado
nele mesmo.
Em trecho da carta de François de Genève, temos oportunidade
de ler:
Acreditai em mim, resisti com energia a essas impressões que
enfraquecem a vontade [os sentimentos que a melancolia traz]. Esses
desejos de uma vida melhor são próprios do Espírito de todos os homens, mas não
a procureis aqui na Terra.
É do Espírito esse anseio por liberdade e espiritualidade,
por desapegar-se cada vez mais da matéria. Isso quando o Espírito já despertou
minimamente para os valores transcendentes.
Ou seja, autor da carta nos traz uma perspectiva do ponto de
vista espiritual para a melancolia, essa vaga tristeza: é na interrelação com o
corpo físico que muitas vezes o Espírito se sente desgastado, cansado,
melancólico.
Temos dias em que a vida material nos parece mais desafiadora,
por conta das lutas, das provas... Dias em que sentimos saudade de algo mais
elevado e duradouro, do que toda essa pressa e brevidade que a vida nos
apresenta.
Como poderemos, então, nos esforçar para sairmos desse estado
quando ele se nos apresentar, já que isso faz parte das almas na experiência
corpórea? Se mais cedo ou mais tarde todos nós viveremos dias, momentos ou
períodos como esse?
É preciso que estejamos munidos de conhecimento para
conseguirmos encontrar saídas para dar cor às nossas vidas.
Se faz necessário nos deixar banhar pelo Sol do Evangelho, da
Verdade Divina, para que essas nuvens possam se dissipar.
Jesus nos prometeu que não nos deixaria sem sua presença
luminosa e que nos enviaria o Consolador.
Eis que temos hoje o Consolador em nossos corações!
A Doutrina Espírita, permeada pela palavra de Amor do Mestre
Sublime, responde às nossas questões mais íntimas e traça para nós o verdadeiro
roteiro para uma caminhada segura e reta, sem desvios, sem falsos atalhos.
Para terminar a reflexão, deixo uma menção de Emmanuel que
nos diz:
A tristeza [melancolia], quando voltada para o crescimento
interior, pode ser um caminho para a salvação. Mas a tristeza que gera lamento
e autocomiseração, é destrutiva. (livro: Caminho, Verdade e Vida, cap 130)
Deixo como sugestão para quem quiser se aprofundar e
encontrar mais respostas para o coração melancólico, voltar um minuto e ler
novamente:
· “Bem e Mal sofrer” – cap 5, item 18
· “A felicidade não é desse Mundo” –
cap 5, item 20
E ler novamente:
· “A Melancolia” – cap 5, item 25
Esses três temas abrem um leque de respostas aos diversos
tipos de sofrimentos humanos.